quarta-feira, 9 de julho de 2008

Ataque em Cabul mata 41 e fere 147
Governo afegão acusa inteligência do Paquistão por atentado contra embaixada indiana, o mais mortífero desde 2001

Um carro-bomba explodiu ontem diante da Embaixada da Índia em Cabul, matando 41 pessoas e ferindo outras 147, no ataque mais mortífero na capital afegã desde a queda do Taleban, sete anos atrás.

"O atentado foi cometido em coordenação com alguns círculos de inteligência na região", disse o Ministério do Interior afegão, referindo-se ao serviço de inteligência paquistanês.

As autoridades afegãs já haviam acusado agentes paquistaneses de estar por trás de vários atentados cometidos nas últimas semanas no Afeganistão. No mês passado, o presidente afegão, Hamid Karzai, ameaçou enviar seus soldados ao outro lado da fronteira para combater os militantes se o Paquistão não adotasse nenhuma medida para contê-los.

O governo paquistanês rejeitou a acusação afegã e condenou duramente o ataque de ontem. O Paquistão, aliado-chave dos EUA em sua luta contra o terrorismo, tem sido pressionado a agir com mais rigor nas áreas tribais, na fronteira com o Afeganistão, onde militantes do Taleban e da Al-Qaeda estariam se reagrupando.

A embaixada indiana é considerada um símbolo dos esforços da Índia de estabelecer uma maior influência no Afeganistão desde a invasão liderada pelos EUA, em outubro de 2001. Segundo analistas, a crescente presença da Índia no Afeganistão, com a abertura de consulados em várias cidades e a participação na reconstrução, reavivou a competição com o Paquistão, seu rival histórico.

"O Paquistão tem uma política declarada de busca de importância estratégica na região, no Afeganistão e mais além", disse C. Uday Bhaskar, ex-subdiretor do Instituto de Estudos de Defesa de Nova Délhi. "Desde a queda do Taleban, a Índia vem retomando suas relações com o Afeganistão. Por isso, há um elemento de competição", declarou. Ele acrescentou que os autores do atentado "são forças que tentam desestabilizar o governo de Karzai".

Segundo autoridades afegãs, tais "forças" seriam formadas por militantes islâmicos e membros da agência de inteligência paquistanesa, a ISI - que ajudou a criar o Taleban, dando treinamento e recrutando estudantes de escolas corânicas (madrassas) ou refugiados afegãos em campos no Paquistão.

Nenhum grupo assumiu a autoria do ataque e um porta-voz do Taleban, Zabiullah Mujahid, negou que seus militantes tenham sido os responsáveis. O Taleban costuma assumir a responsabilidade por ataques contra as forças internacionais ou os soldados afegãos, mas geralmente nega envolvimento em atentados com muitas vítimas civis.

A Índia anunciou que enviará uma delegação ao Paquistão para investigar o que sua chancelaria chamou de um "covarde ataque terrorista". Segundo Nova Délhi, quatro indianos, entre eles um adido militar e um diplomata, foram mortos. A explosão também matou cinco seguranças afegãos na vizinha Embaixada da Indonésia. O suicida lançou o carro-bomba contra dois veículos da embaixada indiana, a poucos metros de uma fila onde dezenas de afegãos aguardavam para obter visto. A explosão ocorreu às 8h30 locais, quando moradores da capital iam ao trabalho ou faziam compras nas lojas próximas.

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